quarta-feira, 25 de março de 2009

Caminhos para Sustentabilidade na Patagônia Chilena.


Ao observar a Patagônia Chilena nos deparamos com um território de características geográficas muito distintas, formada pela Cordilheira dos Andes onde se encontram vulcões, lagos e rios de diferentes cores e tamanhos, montanhas, glaciares, campos de gelo, ilhas e uma diversificada vegetação que conta com uma variada fauna e flora da região. Fotos Guanaco, Montanha e Lago, Glaciar Grey, Vulcão. Além da distinta natureza a Patagônia Chilena, possui uma rica cultura e historia das comunidades humanas que habitaram e as que vivem atualmente neste precioso local.
É uma região de relevante interesse ecológico de grande importância global, por este motivo necessita de cuidados especiais com fim de proteger e valorizar este valioso patrimônio natural. Uma das estratégias de preservação destes ambientes foi a criação do Sistema Nacional de Áreas Silvestres Protegidas (SNASPE) que compreende 19 % do território nacional com um total de 95 áreas administradas pela CONAF (Corporacion Nacional Forestal). Estas áreas são divididas e classificadas como Parques, Reservas e Monumentos Nacionais distribuídas em todo país. Grande parte de seu território se postula ser declarado como sitio mundial de Patrimônio da Humanidade frente a UNESCO. Foto Parque Nacional Queulat Ventisqueiro.Foto Torres Del Paine
Esta exuberante paisagem que a Patagônia apresenta, possibilita uma economia voltada ao turismo de atrativos naturais que resulta em uma rede de agências de ecoturismo, hotelaria, comércios, artesanatos e gastronomias, realizadas pelos próprios moradores do entorno das áreas protegidas.
A grande questão atualmente na Patagônia Chilena é como viabilizar um turismo de qualidade e manter a conservação da natureza e da comunidade. As Áreas Silvestres Protegidas tem uma grande importância, mas é indispensável que haja fortes iniciativas públicas e privadas para o desenvolvimento sustentável das regiões a partir de ações como saneamento, fontes de energia renovável, reflorestamento, reciclagem e outras atividades indispensáveis para infra-estrutura e qualidade ambiental e pública da região.
Notamos ao percorrer a “Carretera Austral”, rodovia austral do Chile com muitas áreas protegidas e pequenas vilas, uma preocupação dos moradores e turistas sobre grandes projetos de hidrelétricas previstos para 2015, que podem ocasionar em impactos sócio-ambientais, como também poluição estética com a implantação de longas e grandes torres de alta tensão para abastecimento de energia. Uma das manifestações em nível nacional e internacional é a campanha “Patagônia Sin Represas” que espalha informações e outdoors sobre o impacto dos projetos de hidrelétricas e revela alternativas como as energias renováveis. Sites como www.ecosistemas.cl , www.patagoniasinrepresas.cl e www.aisenreservadevida.cl , são portais de informações e campanhas contra os projetos de grandes hidrelétricas na região.
Foto Placas sin Represas.
Outra grande preocupação é o asfaltamento e duplicação da “Carretera” que tem como magia a sua simplicidade nos diferentes caminhos de “ripios”. A comunidade teme uma aceleração de turistas e comércios ao longo da rodovia sem haver infra-estrutura para sustentar o aumento do fluxo. foto Carretera em Obra.
O abastecimento energético na Patagônia passa por desafios e há uma grande demanda conseqüente das condições climáticas de baixas temperaturas ao longo do ano, principalmente no inverno e o crescente movimento de turistas nas temporadas. Por esta razão há uma necessidade de nível nacional para uma maior eficiência energética com o objetivo de evitar o consumo de fontes de matérias primas não renováveis e importadas como o gás natural da Argentina que tem seu fornecimento controlado e o consumo do petróleo que corresponde a 41% do consumo bruto de energia primária (CNE, 2001). A lenha também é fonte de matéria prima utilizada para geração de energia na Patagônia com 16% do seu consumo. Foto Fogão Cerro Castillo e Auecimento do Hotel. Las torres
O gráfico abaixo revela as fontes primárias de energia utilizadas no Chile, fonte CNE, 2001.

Fontes energéticas potenciais na Patagonia.
Comunidades, universidades, empresas e governo estão na ou em ??? busca de formas mais viáveis e eficientes para o controle e consumo através de estudos e implantações de Sistemas de Energias Renováveis Não Convencionais (ERNC), terminologia chilena para designar as “energias limpas”.
A Patagônia tem um potencial energético altamente considerável pela suas favoráveis condições climáticas e geográficas que tem como fontes de energia o vento, o mar, o sol e outros elementos naturais de grande importância para geração de energia.
Sem dúvida o vento é um elemento marcante na Patagônia, com freqüências média 32,4 km/h (Salvador, 2007) que poderia ser mais aproveitada para geração de energia eólica de grande escala. Foto arvore com vento
Há implantações de sistemas rurais isolados de pequena escala em diferentes áreas particulares, em parques, comércios, casas e outras localidades. Foto Parque Torres Del Paine. O único parque eólico com escala industrial existente é o “Alto Baguales" na região de Aisen, funcionando com 3 aerogeradores de tecnologia dinamarquesa (Vestas) de 45m de altura, 660 kW de potência cada um, encontrando-se ligado ao Sistema Eléctrico de Aisén, que serve 19.000 famílias da região XI do país. Foto Eólicas
Um outro exemplo de destaque é o Projeto Piloto na Ilha Tac, no Arquipélago de Chiloé (X Região), o projeto se encontra em operação desde outubro de 2000 e corresponde a um sistema híbrido eólico-diesel que conta com aerogeradores de 7.5 kw cada um que beneficia 79 famílias e 3 centros comunitários.
Os sistemas de ERNC estão sendo implantados a partir de Projetos de Eletrificação Rural com energias renováveis e conta também com ações de Governos Regionais, propriedades particulares e comércios. Nos endereços www.renovables-rural.cl e www.cne.cl/fuentes_energeticas/f_energeticas.html , há informações a respeito dos projetos.
Na Patagônia como em diversas regiões do Planeta Terra, há condições estratégicas para soluções de variados problemas que as sociedades enfrentam, mas requer mudanças de hábitos, pesquisas, iniciativas públicas, educação e informações de qualidade para os diversos setores. Apenas assim poderemos seguir os caminhos para a sustentabilidade.
“Todo lo que en el mundo se ha logrado... ha sido factible gracias a que se lanzaron ideales y esperanzas que excedían en mucho las posibilidades del momento”. (Herman Hesse).

Luciana de Sá Nogueira: Educadora e Gestora Ambiental, especializada em Saúde Pública interdisciplinar. É coordenadora da Revista GEA do CRIS (Centro de Integração em Sustentabilidade). Registra iniciativas sócio-ambientais pela America Latina e é colaboradora da Revista Sustentabilidade.